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His(Es)tórias do Éd #1 - A professora que não curtia mais Guns'n Roses

Ontem estava eu caminhando pelas ruas de Porto Alegre, quando repentinamente me vem uma lembrança de tempos passados (é óbvio que se é uma lembrança, é de tempos passados, mas essa lógica nem sempre vale para mim) em mente.
O ano é 2001, a cidade São Borja. Segundo ano do Ensino Médio, aula de Filosofia. Colégio Estadual São Borja (CESB). Aula bem informal, alunos à vontade, conversando com a professora. Um colega fala para a professora que ela tem cara de quem curte Guns'n Roses. A professora dá um sorrisinho de leve. "Quando mais novinha", responde ela. Não lembro exatamente o que pensei na época, mas com certeza não entendi o fato de uma pessoa "deixar de gostar" de algo só porque a idade avançou. Hoje em dia penso que é mais estranho ainda uma professora de filosofia pensar dessa forma, ainda que ela não tenha explicado o porquê de não mais curtir. Não lembro nem o nome da professora, mas ela não era velha.
Isso me lembrou outro post que escrevi dia desses, sobre games. É uma coisa que as pessoas no geral param de fazer também, porque "não têm mais idade" ou "estão velhas demais para isso". Quando eu era criança, ser adulto me parecia ser uma coisa muito difícil (e chata). Algo distante demais para mim. Trabalhar de sol a sol, chegar em casa, assistir novela... Ir no mercado fazer o "rancho" com a esposa e as crianças no final de semana... Deixar de jogar bola, de jogar video-game... De certa forma, acho que incoscientemente tenho um pouco dessa visão ainda, porque até hoje não me considero um adulto. Trabalho, pago minhas contas, possuo curso superior completo, tenho minhas responsabilidades... Mas não sou e nem quero ser aquele adulto clássico, que formei a imgem em minha infância.
Definitivamente, não quero deixar de escutar as músicas que gosto. Não mesmo. Não quero deixar de jogar os games que me divertem. Não quero deixar de viajar, só porque adultos só viajam nas férias, a trabalho, ou ainda, por um motivo "muito importante".
É lógico que tenho meus limites (como os temos também na infância). Às vezes temos de escolher entre trabalho e diversão. O que eu quero aqui defender é apenas meu direito (e o seu também) de ser eu mesmo (seja você mesmo !). E tenho dito (ou escrito).

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