"Acho que ninguém cria uma música. Ela já existe. Ela flutua aqui, passa pelas paredes, fica atrás das cortinas... vai a toda parte. Eu me vejo como uma antena receptora." - Keith Richards falando sobre o seu processo criativo em entrevista para Bruna Lombardi, em 1993.
Eu não entendo nada de música. Não tenho ouvido para identificar as notas e nem toco nenhum instrumento musical. O máximo que já consegui foi soprar uma flauta doce e emitir algumas notas desafinadas.
Entretanto, eventualmente eu consigo perceber rudimentos de música em eventos do cotidiano. Talheres caindo, batidas na porta e até mesmo peidos. Talvez a música esteja mesmo no ar.
Eu já dei um peido, por exemplo, que soou como algumas notas iniciais de Entre Dos Águas, de Paco de Lucía. Outra vez eu presenciei um colega batendo em uma porta que soou como a introdução de Olhar 43, do RPM.
Dia desses eu estava indo para academia. Um pouco antes de chegar, vi uma senhora andando na minha frente, junto com uma criança (provavelmente neta). A criança andava silenciosamente. A senhora emitia uma barulho ao andar. Quando me aproximei mais, pude perceber uma batida meio Eurodance anos 90.
Subitamente, o ritmo mudou. Ela estava de chinelos. A cada passo, o calçado batia no chão e na sola do pé dela. A cadência das passadas e o ritmo das batidas soou como a introdução percussiva da música Detetive, do Comunidade Ninjitsu.
Foram poucos segundos ouvindo a batida, pois eu precisei entrar na academia. Ficou faltando o solo de guitarra.
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