Pular para o conteúdo principal

His(es)tórias do Éd #5 - Um sonho de criança

Lá pelos idos de 1988, 1989 (sim, eu já era nascido) eu morava em uma pensão (esse costume vem de infância, como se pode notar). Meus pais gerenciavam um estabelecimento desse tipo, e nós morávamos no mesmo prédio onde funcionava a hospedaria. Lá, do alto dos meus 4 ou 5 anos de idade, pude ver diversos tipos de pessoas, em um tempo em que a TV Guaíba passava filmes de faroeste de tarde.

Certo dia (ou noite, não me lembro no momento), vi uma porta de um dos quartos aberta e enxerguei lá dentro um fogareiro de duas bocas, cor azul-azulejo-de-banheiro. A partir daquele instante, passou a ser um dos meus sonhos ter um daqueles. Desde essa época passei a achar que o nome daquilo era "liquinho", mas uns 20 anos depois descobri que liquinho, na verdade, era o botijão de gás pequeno que geralmente se usa com esse aparato.

Durante vários períodos esse sonho ficava adormecido, mas de vez em quando, era relembrado por algum fato. Nos últimos anos, essa vontade de ter um fogãozinho duas bocas sonho se tornou mais forte, devido ao fato de que em minhas pesquisas sobre motorhomes (esse, um sonho ainda não-realizado), volta e meia estava lá um fogareiro duas bocas em alguma foto de trailer ou motorhome. Aliás, eu acho que ainda não saí da infância, por isso esses sonhos persistem. Eu já disse por aqui que a vida de adulto é bastante chata. Se eu não disse, eu quis dizer.

Pois bem. Ontem, pela manhã, por módicos R$ 30 realizei meu sonho. Entrei em um brick (loja de móveis e eletros e qualquer coisa que se queira vender) para comprar um fogão e uma geladeira. Escolhi a geladeira, e não gostei dos fogões expostos. Foi quando dei de cara com o fogareiro, jogado em canto. Não resisti.

Meus sonhos até que não são caros.

Meu fogareiro.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Salto com Vara

Dia desses, assistindo ao Salto com Vara nas olimpíadas, lembrei de uma vez, quando criança, que eu estava assistindo uma matéria no Jornal Nacional, noticiando que uma atleta tinha batido o recorde mundial da modalidade, ou algo assim.  Na época, eu não entendia como funcionava esse esporte. Pensava que o salto era medido por algum dispositivo lá no alto, que marcava a altura atingida pelos atletas quando eles passavam por ali.   Na matéria, apareceu a atleta pulando e comemorando com um grito, ainda no ar. Comentei então com a pessoa adulta que estava na sala, algo tipo "mas como ela já sabia que tinha quebrado o recorde?".  Esta apenas afirmou, do alto de sua pretensa sabedoria: "O salto foi perfeito!", como se a graciosidade do pulo fosse o principal elemento daquele desporto.  Percebi então que aquela pessoa sabia menos ainda do que eu sobre a modalidade, mas pelo seu total desprezo pela minha condição de criança e se julgando superior por ter nascido muitos an...

Eu fui, mas eu voltei...

Por que escrever?  Considero essa pergunta tão relevante que até criei uma aba só para ela, aqui no blog. Tem um texto inteiro dedicado a respondê-la nessa aba? Não. Apenas um parágrafo — que, para ser honesto, não responde satisfatoriamente ao questionamento. "Simplesmente escrevo, sem maiores preocupações" , foi o que escrevi lá. Mas o que eu não disse é que também acredito que temos responsabilidade sobre o que falamos e escrevemos. Se nossas palavras magoam ou causam divisão, por exemplo, talvez precisem ser revistas. Ou, quem sabe, silenciadas. Se não tenho nada de relevante a comunicar, simplesmente não escrevo. Isto é algo que eu gostaria de treinar também para a fala — eu falo demais, muitas vezes sem necessidade. Nesses últimos meses, aconteceram várias coisas dignas de nota e que renderiam boas crônicas (a maioria eu já esqueci porque não anotei). Mas antes de escrever, sempre vinham algumas perguntas: O que eu realmente quero com isso?  É só para alimenta...

O agarrar não tem fim. O soltar sim.

 "(...) a felicidade é apenas uma forma refinada de sofrimento. O sofrimento em si é a forma grosseira. Você pode compará-los a uma cobra. A cabeça da cobra é a infelicidade, a cauda da cobra é a felicidade (...) mesmo se você segurar a cauda, ela irá se voltar e mordê-lo do mesmo jeito, porque ambos, a cabeça e a cauda, pertencem à mesma cobra." - Ajahn Chah, monge budista  da Tradição das Florestas do budismo Theravada. Vi uma postagem em rede social de uma estampa de camiseta. A imagem da estampa era uma cobra mordendo o próprio rabo, com a seguinte citação: "para cada fim, um novo ciclo". A posição da cobra formava o símbolo do infinito. Não reproduzo a imagem aqui por questões de direitos autorais e por não querer causar nenhum tipo de perturbação ao autor. Muito provavelmente a pessoa que criou a estampa, pensou na tristeza dos finais de ciclo e na esperança dos inícios, das novidades.  Algo como:  "Que pena, acabou :(".  "AIQSHOW, um novo ciclo...