Acompanhei pela imprensa o caso dos garotos de um time de futebol que ficaram presos em uma caverna inundada. Após alguns dias, fiquei sabendo que o técnico do time (único adulto preso) era um ex-monge budista, da tradição Theravada, que é a forma de budismo mais popular na Tailândia.
Ekapol Chanthawong, de 25 anos, foi monge budista por 10 anos, tendo largado o manto para cuidar da sua avó, que passava por problemas de saúde. Ekapol deixou a vida monástica há 5 anos. Entretanto, seguia como praticante leigo do budismo Theravada. Segundo a BBC, ele frequentava o templo Wat Phra That Doi Wao, que fica próximo à fronteira com Mianmar.(https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-44807895).
O que aguçou ainda mais a minha curiosidade foi saber que o ex-monge estava usando a meditação com os atletas-mirins, durante o tempo em que eles estavam na caverna.
A meditação é algo que tem se tornado pop nos últimos tempos. Mindfullness, yoga, vipassana, zazen... são muitos tipos de meditação disponíveis.
A ciência, inclusive, tem comprovado por meio de estudos, os inúmeros benefícios da meditação (https://veja.abril.com.br/saude/meditacao-ganha-enfim-aval-cientifico/)
Não precisamos esperar ficarmos literalmente trancados em uma caverna para começar a meditar. Fazendo uma analogia com a Alegoria da Caverna, de Platão, podemos afirmar que estamos, de qualquer modo, presos em uma caverna.
A meditação foi essencial para a sobrevivência dos meninos. Inclusive, segundo Thongchai Lertwilairattanapong, inspetor do departamento de saúde da Tailândia, eles estavam em boas condições de saúde e não estavam estressados (https://www.bbc.com/portuguese/internacional-44794715). Ficar 17 dias preso em uma caverna e não apresentar estresse, já demonstra a capacidade que a meditação tem de ajudar a lidar com o sofrimento.
Entretanto, um tema que notei não estar na pauta da imprensa, é a morte. A chance de todos eles morrerem no interior da caverna era enorme. E seria uma morte desesperadoramente lenta. E eles sabiam disso. O mundo todo sabia disso. Entretanto, a ênfase dada pela imprensa aqui no Brasil, quanto à meditação, era apenas "saúde mental", "controle do estresse". Um pouco pela morte ser um tabu no ocidente, outro pouco pelo desconhecimento do budismo.
Tenho certeza que o ex-monástico usou sim a meditação como forma de evitar o desespero próprio e dos meninos, bem como para controlar o estresse. Mas certamente ele usou a meditação também para estimular estados mentais hábeis, tendo em vista a possível morte de todos. A morte é tema de alguns discursos do Buda, sendo a contemplação dela um dos tipos de meditação presentes na tradição Theravada.
Deixo aqui uma citação de Ajahn Dtun, monge Theravada, sobre a contemplação da morte:
FontesContemplamos a morte a fim de nos lembrarmos de não sermos negligentes nas nossas vidas, procurando desenvolver e praticar a virtude o tanto quanto possível durante o tempo que ainda temos de vida. Assim, no decorrer da nossa prática mantemos os preceitos, desenvolvemos em nossas mentes a virtude, meditação e sabedoria.
Sobre o budismo Theravada, Morte e Meditação:
Eu sei, mas eu não sei: Contemplação da Morte
Perguntas e Respostas
A Visão Budista da Morte: Uma entrevista com Bhante Gunaratana, com Samaneri Sudhamma e Margot Born
Maranassati (pathama) Sutta Atenção Plena na Morte
Meditação ganha, enfim, aval científico
Notícias sobre os meninos da caverna:
https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-44807895
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-44794715
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/07/saiba-quem-e-o-treinador-e-ex-monge-preso-com-garotos-em-caverna-da-tailandia.shtml
https://www.dn.pt/mundo/interior/-o-ultimo-na-lista-do-resgate-o-treinador-budista-que-ajudou-as-criancas-com-meditacao-9572130.html
https://br.noticias.yahoo.com/meditacao-tecnica-que-ajudou-os-meninos-sobreviveram-na-caverna-181427471.html
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