Ouvi falar que o filme Caçadores de Emoção (1991) é um clássico da Sessão da Tarde. Não sei se é verdade. Nunca tive muitas oportunidades de assistir à programação vespertina da Rede Globo, pois a maior parte da minha vida escolar foi no período da tarde. E depois da minha vida escolar, praticamente deixei de assistir TV.
Acabei assistindo a referida película em um DVD, já no final da faculdade. Ou depois de formado, não lembro bem.
Recentemente, assisti ao filme pela terceira vez.
A partir daqui, recomendo ao leitor que se ainda não assistiu ao filme, pare a leitura e só a retome após assistir. Nas próximas linhas, revelarei eventos do enredo do filme (os populares spoilers).
Algo que havia passado despercebido das outras duas vezes, é que Bodhi (personagem interpretado por Patrick Swayze) é referido por outros personagens com expressões que o aproximam de um guru espiritual ou mestre budista.
Realmente, pelo discurso dele, pode se notar que ele tem alguns interesses transcendentais, se autodefinindo como um buscador da onda perfeita. Ele também diz que pegar onda é um estado de espírito.
Entretanto, não posso concordar com a afirmação, bastante comum dos admiradores do personagem, de que Bodhi seja “espiritualizado”, ou "zen" (aqui interpreto "zen" com o sentido de zen-budista).
Vamos por partes: Bodhi chefia um bando que assalta bancos. Eles assaltam essas agências para bancar um veraneio surfando. É um modo de manter o estilo de vida deles. Não vejo nada muito espiritualizado ou desapegado aqui.
Foram 30 assaltos em 3 anos. Segundo o FBI, eles assaltavam apenas durante a temporada (4 meses). São mais de 2 assaltos por mês, na média.
Em uma das cenas mais emblemáticas do filme, Bodhi fala que os assaltos nunca foram pelo dinheiro, mas uma luta “contra o sistema". Sistema este que “mata o espírito humano”.
Aqui temos algo razoavelmente menos materialista do que se esperaria para um assaltante de bancos. Ao menos no discurso (seja lá o que signifique tal discurso). Mas na prática, não passa de um malabarismo verbal raso e com roupagem "new age" para tentar convencer que há um ideal maior do que o próprio benefício nesses roubos que eles praticam.
Bodhi é um buscador da onda perfeita. E para financiar essa busca, ele pega em armas e toma um dinheiro que não lhe pertence. E inclusive, mata uma pessoa que tenta impedir um dos roubos (mesmo dizendo, algumas cenas antes, que odeia violência).
Não há budismo nesse personagem. Não enxergo nada "espiritualizado" nas suas atitudes. É apenas alguém tentado bancar seu estilo de vida com o dinheiro alheio. E com certeza, eu não o escolheria como um guru.
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