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His(es)tórias do Éd #7 - A Reflexão de um Cidadão Latino em Porto Alegre

Algumas pessoas que frequentam este blog sabem que fui Policial Militar, durante algum tempo. Durante o curto período em que servi na Brigada Militar, conheci grandes amigos e também alguns dos maiores pais-nos-cús que tenho notícia,  presenciei cenas felizes e também tristes.

Em uma tarde do ano de 2011, quando eu servia no 9° BPM, em Porto Alegre, entrei juntamente com outros colegas em uma lancheria do centro da capital para apreciar um café-com-leite. Logo notei um senhor que nos olhou e fez uma cara de incomodação, em seguida começando a escrever esquizofrenicamente em um guardanapo de papel (daqueles mais simples).

Antes que eu pudesse terminar meu café, ele vem e me entrega, falando em portuñol que queria deixar um pequeno pensamento dele. Pego o papel e leio o que está abaixo transcrito:

"VALOROSA BRIGADA MILITAR
 SOU UM IGNORANTE
 ESTUDADOR DE LA HISTÓRIA.
 MIRA HAY QUE SE  VIVIDO
 UM NIÑO EM LA CRUELDADE
 DE HAMBRE QUANDO LO
 ROBAM, USTED, LOS ENTRE-
 GARIAN, TENÍA-LO
 MATADO? LA BRIGADA
 ES SUR AMERICANA
 YO VEJO LOS IDEALES
 DE JUSTICIA
 MORRIR EN TRIBUNALES
 MARCADOS DY DOS,"

Os colegas que estavam comigo acharam estranho, mas não fizeram nenhum esforço para pensarem sobre o assunto e seguiram o curso normal de suas vidas poucos segundos após eu receber o pedaço de papel.

Infelizmente, não lembro a data exata (falhei em não publicar antes e também por não ter datado o guardanapo). Entretanto posso afirmar que não foi no mês de Maio e nem no de Agosto. Nunca entendi exatamente o que o desconhecido latino quis dizer com suas palavras, mas ironicamente ele também era (quem sabe ainda é) um "estudador de la historia", assim como este que vos escreve com tão pouca frequência. 

Na manhã de ontem (09/07/2013), após chegar de uma corrida pelas ruas de Uruguaiana, achei este papel que julguei ter perdido na distante Porto Alegre.

Por onde andará este homem ? Eu realmente não sei, pois nunca o tinha visto e nunca mais o vi. Eu simplesmente me senti na obrigação de compartilhar a reflexão dele.

E você, o que pensa disso tudo ?

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