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Uma tarde ensolarada de Janeiro de 2012



Há pouco mais de 8 anos, em uma tarde ensolarada, eu vinha no ônibus, fardado, para assumir o serviço no Batalhão em que servia, na cidade de Porto Alegre.

Eram meus últimos dias na Brigada Militar do RS. Eu havia sido chamado para assumir um cargo em outro concurso. Estava chegando ao fim de uma longa contagem de dias.

Quando o ônibus passava na Loureiro da Silva, próximo ao Largo Zumbi dos Palmares, presenciei, pela janela do coletivo, um cidadão bater a carteira de uma senhora. Pedi ao motorista que parasse o ônibus e iniciei a perseguição ao criminoso.

Peguei ele na Ponte dos Açorianos, após correr uns 200 metros. Quando eu me aproximava, ele pulou para dentro da água. Ele se entregou ao ver que não iria conseguir sair dali. Eu era apenas um, mas ele estava cercado.

Fiquei com o elemento detido, esperando a chegada do reforço policial.

De repente, chega um indivíduo (hoje eu descobri que ele se chama Tiago), me parabeniza e pede para tirar uma foto. Ele pega meu e-mail e diz que vai mandar a foto quando chegar em casa. Se não me engano, ele falou alguma coisa de mandar para algum jornal.

Durante todos esses anos, sempre que eu contava essa história lembrava que Tiago (agora ele tem um nome) não tinha me mandado a foto. Tudo bem, deve ter acontecido algo. Ou ele simplesmente esqueceu. Também não foi assim nada tão importante para a capital dos gaúchos.

Hoje, depois de 8 anos, achei a foto no meu e-mail. Duas fotos, na verdade. Uma delas estava com um texto que teria sido publicado no Facebook, na época. Ele me mandou o link também, mas não tem mais nada lá.

Respondi o e-mail me desculpando por não ter nem sequer agradecido o trabalho dele me mandar a foto. O e-mail não existe mais também. O Tiago deve achar até hoje que sou mal-educado, que não respondi o e-mail e nem curti a foto que ele postou no Facebook.

Não sei por que eu nunca percebi aquele e-mail na minha caixa de entrada. Deve ter se perdido na montanha digital de dados que recebemos e guardamos. Ficou oito anos lá, sem ser lido.

Quantas coisas não aconteceram de lá para cá? Mudei de emprego, o cabelo cresceu, aprendi a nadar... Fico me perguntando o que aconteceu na vida do Tiago, desde aquele dia. E com o preso também. Teria se regenerado? Quem sabe morto em conflito com a Polícia?

E a vítima, por onde andará? Era uma senhora já de certa idade...

São tantas perguntas e tantas informações que se acumulam diariamente.

Por hoje, eu só queria agradecer ao Tiago por ter tirado aquela foto e ter ocupado o tempo dele postando sobre o trabalho que realizei.




P.S.:Esta é a foto que ele postou no Facebook.


Essa parte do táxi oferecendo carona eu não lembrava.


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