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Foto: Arquivo pessoal |
O café é um ativador de lembranças. O aroma, mais do que o sabor, me desperta
reminiscências. Eu lembro, por exemplo, do bule onde a gente passava café, lá
em casa, quando eu era criança. Mas era bem de vez em quando que eu usava esse
utensílio, porque a mãe não deixava tomar. Fazia mal para o coração, ela dizia.
Eram raras as vezes em que era liberado.
Paradoxalmente,
algumas dessas poucas vezes eram cafés noturnos, acompanhando uma mesa farta, em
substituição à janta. Mas era misturado com leite.
Já na
adolescência, eu lembro do café quando jogava alguns torneios de xadrez. Era
mais legal ainda no inverno, quando começava a rodada e eu pensava em que
jogada fazer, enquanto sorvia alguns goles quentes.
Uma vez,
inclusive, eu estava em um intervalo de uma rodada do Campeonato Brasileiro sub
14, disputado em Xangri-Lá (RS), no ano de 1998. De repente, surge uma mulher
(se não me falha a memória, era mãe de um dos competidores), idade regulando com
a da minha mãe. Ela me chamou a atenção porque eu estava tomando muito café.
Disse que eu estava em fase de crescimento e precisava dormir. E tomando aquela
quantidade de café, atrapalharia o meu sono. Nunca atrapalhou.
Lembro também
quando eu chegava de viagem, na casa de uma das minhas avós, e o café da manhã
estava servido. Ela guardava as sobras de café passado em uma garrafa de bebida
isotônica, no tempo em que eram de vidro os recipientes. Ela chamava esse café
de “tintura” e era para misturar no leite ou na água quente.
Outra das minhas
avós (eu tinha 3, só para constar), deixava várias cafeteiras espalhadas pela
casa, todas com um café passadinho (ou “chafé”, como diria meu pai, visto que
era bem diluído). Desta forma, ela podia se dedicar aos afazeres domésticos e
ter sempre a bebida quente próxima. Ainda hoje me lembro da casa dela, toda vez
que tomo um café fraco.
Ou ainda, café
de rodoviária. Eu prefiro café de rodoviária do que de aeroporto. Bar de
rodoviária geralmente tem aquele charme estilo anos 80/90. Tipo um dos bares da
rodoviária de São Borja, no interior do Rio Grande do Sul.
Muitas vezes eu
peguei um ônibus de noite em Uruguaiana, que fica na fronteira com a Argentina,
chegando de manhã bem cedo em Porto Alegre, para então eu descer do ônibus, dar
uma espreguiçada, pegar a bagagem e tomar um café na rodoviária da capital
gaúcha.
São muitas
recordações que o café me traz. Posso não voltar no tempo e nem trazer de volta
as pessoas, mas posso recordar tudo isso quando sinto o cheiro do café.
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