Já escrevi outra vez que tenho alguns hábitos de observação. Um deles é tentar elaborar um "perfil" (às vezes até uma biografia) de algumas pessoas com as quais tive contato.
Dia desses, aconteceu algo um pouco diferente: a própria pessoa contou a história dela para um outro ouvinte, enquanto eles aguardavam atendimento em um local. A história fluiu em 2 ou 3 minutos, sem interrupções do interlocutor, que por mais incrível que pareça, escutava tudo com muita atenção. Não tive a menor chance de tentar imaginar algo. Tudo nos foi entregue pelo biografado.
Era um senhor de uma certa idade. Trabalhou em um cargo público por 6 anos, sendo aposentado por motivos de saúde. Ele então arrumou outra atividade profissional. Pelo que entendi, o novo serviço era de caminhoneiro, pois ele precisava viajar todas as semanas e tomava "rebite" para ficar acordado.
Deste hábito, ele acabou migrando para a cocaína. Depois foi para o crack. Hoje ele se trata para dependência química e precisa tomar um remédio que, parece, o governo não está fornecendo. A mãe dele, uma idosa saudável e lúcida, residente na Europa, recomendou que ele fosse para lá buscar tratamento "de primeiro mundo".
Segundo o protagonista desta crônica, alguns países da Europa possuem um convênio com o governo federal do Brasil, que custeia o tratamento de dependência química para brasileiros naqueles países.
Ele contou também que já teve problemas com a justiça. Tudo aconteceu quando ele encontrou a esposa dele pelada com outro homem na cama (também pelado). Ele agrediu ("para não matar") o homem. Ou talvez tenha sido a mulher que foi agredida, não pude escutar direito.
Ouvi toda a história, digna de uma novela (do SBT), com um pouco de interferência do barulho. A narrativa, apesar do ritmo acelerado, manteve uma fluidez e coesão que de uma certa maneira me impressionou.
Enquanto eu tomava nota daquela crônica ao vivo, o biografado se afastou a passos lentos, levando consigo todas aquelas histórias.
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