Certa feita, acredito que no ano de 2006, eu estava indo de Porto Alegre para Uruguaiana de ônibus. Na época, a parada para o lanchinho era em São Gabriel, no restaurante Paradouro. Desci do ônibus para comprar um lanche.
Rapidamente escolho os produtos e vou para o caixa (sempre tive medo de perder o ônibus). Quando eu estava pagando, vejo que o Planalto (empresa de ônibus que fazia essa linha) começou a sair. Entrego o dinheiro e saio correndo, gritando para o motorista. Ele interrompe a manobra e eu entro esbaforido, me dirigindo ao meu assento com dificuldade, devido ao balanço do ônibus que voltara a manobrar.
Quando chego ao meu banco, tem alguém lá. Penso: O QUE ESSE CARA TÁ FAZENDO NO MEU LUGAR? Então percebi que eu tinha errado de ônibus. Peço para o motorista parar e desço rapidamente, em meio às vaias e risos do público.
Quando piso em terra firme, enxergo o meu Planalto saindo. Corro desesperadamente mais uma vez, gritando para o motorista parar. Ele interrompe a manobra e abre a porta. Entro rapidamente. Eu só queria chegar no meu banco e me recuperar do vexame anterior. Quando alcanço a minha poltrona, tem pessoas diferentes nos bancos. Então eu procuro a minha mochila e... ERREI DE ÔNIBUS DE NOVO! Desço rapidamente, em meio às vaias e risos do público.
De volta ao pátio, percebo que resta apenas um Planalto. Será o meu ônibus? As pessoas estão embarcando, motor ligado. O motorista se posicionando. Me aproximo cuidadosamente. Já na fila para embarcar, percebo as pessoas hostis comigo. Alguns tentam disfarçar o ar de riso. Eles estão esperando para assistir eu errar de ônibus pela terceira vez.
Mas não posso fugir, preciso entrar no ônibus. Minha mochila está lá. Se estivesse comigo, eu poderia começar uma nova vida em outro lugar, onde ninguém soubesse desses vexames. Entro lentamente, com extremo cuidado. TODOS ME OLHAM, ESPERANDO O MOMENTO DE EU CHEGAR NA MINHA POLTRONA E PERCEBER MAIS UM ERRO. ELES MAL CONSEGUEM DISFARÇAR O RISO. ESTÃO ANSIOSOS PARA MAIS UM VEXAME MEU.
Faltam apenas alguns passos para a minha poltrona. Tento ver se enxergo minha mochila de longe, mas algumas pessoas na frente tentam deliberadamente atrapalhar minha visão. Será que errei mais uma vez?
Quando finalmente chego na poltrona, ela está livre, com a minha bagagem. Acabou a tensão. As pessoas me esquecem e seguem suas vidas. Finalmente acertei o ônibus. Nem só de erros é feita a minha história.
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